CONTO: Edisson e Sheila (parte 1) Postado no uol.religiao em 11/08/2000. Este é apenas um conto, produto de minha imaginação. Por ser logicamente consistente (eu acho), poderia eventualmente ser algo real no futuro. Pode ser também que essa situação nunca se produza realmente. Cada um ache o que quiser. Edisson é o nosso amigo que participa ativamente deste newsgrupo. Infelizmente, Edisson, como todos nós, passará pela experiência da morte, que aterroriza a humanidade desde que os primeiros humanóides adquiriram um certo grau de autoconsciência. Esperemos que a Ciência avance bastante, oferecendo-nos diversos tratamentos para doenças, e que essa experiência inevitável ocorra para Edisson em um futuro bem longínquo. Sheila é uma deusa. Uma deusa mesmo, ou seja, um ser inteligente que participou da criação desse nosso universo. Sheila criou vários outros universos, atualmente destruídos, antes de criar o nosso. Sheila viu o desenvolvimento de várias espécies inteligentes que viveram nesses universos, documentando-os ao nível mais elementar da matéria que compunha esses universos. A partir dessa documentação extremamente minuciosa, ela é capaz de recriar cada um dos seres que existiram nos universos que criou. Sheila costuma criar universos paralelos apenas para recriar os seres que mais lhe interessaram (todos os exemplares inteligentes lhe interessam), para interagir diretamente com eles (vamos chamar tais lugares de paraísos). Um dos principais divertimentos de Sheila é acompanhar o desenrolar da história das espécies inteligentes que populam os universos que criou, ela nunca sabe o que essas espécies vão fazer ao longo de sua existência, que culturas e civilizações produzirão, de que forma se extinguirão, que imagem farão dela (Sheila não se revela para não atrapalhar o desenvolvimento das espécies). Após a morte de Edisson, Sheila escolhe em seus arquivos minuciosos, a versão do Edisson em um dado instante de seu período de vida (no caso, pode ser a versão de um dos últimos instantes de sua vida, enquanto estava bem lúcido). Utiliza então sua capacidade de modelar a matéria para recriar uma cópia idêntica desse Edisson particular, que posiciona em uma praia de um universo paralelo. Ao mesmo tempo, cria um corpo feminino bastante sensual segundo as preferências de Edisson, e injeta nos neurônios desse corpo feminino uma parte de seu conhecimento. Coloca esse corpo feminino ao lado da cópia de Edisson e "religa o tempo" daquele universo paralelo paradisíaco. Edisson acorda meio aturdido lembrando-se de que, há pouco, estava indo para uma cirurgia (foi assim que faleceu). Percebe a praia e a linda morena que o observa. Edisson, confuso, pergunta como foi parar ali, o que ocorreu? Sheila (na forma da morena) lhe diz que infelizmente ele faleceu e agora está vivendo em outro lugar. Edisson: Estou achando essa brincadeira muito sem graça. Eu estou vivinho da silva, sinto o calor do sol, sinto odores, estou vendo tudo normalmente, a areia é bem sólida, meu coração está batendo, continuo respirando e esse revertério que estou sentindo na barriga, dado o nervosismo que você está me causando, indica que meu intestino está funcionando. Sheila: Esse lugar se parece muito com a Terra mas estamos sozinhos em um planeta idêntico, em outro universo, e eu sou o que vocês chamam de uma deusa. Meu nome é Sheila. Edisson: Eu sou evangélico e acredito apenas no Deus da Bíblia e em Jesus Cristo seu filho, nosso senhor e salvador. Você deve ser uma mulher maluca ou estão fazendo uma brincadeira de muito mau gosto. Sheila: Querido, eu conheço muito bem a Bíblia mas te asseguro que aquilo tudo é apenas fruto da imaginação dos seus autores. Se você quiser, eu te mostro como e quando cada versículo foi escrito, como viveram os personagens que foram reais, mas o deus Jeová não existe. Edisson: Minha fé na Bíblia é inabalável. Essa brincadeira já está indo longe demais. Vou andar e procurar mais alguém nessa praia. Não estou a fim de ficar conversando com uma engraçadinha ou uma maluca. Tchau. E Edisson sai andando pela praia, pensando consigo mesmo que deve ser alguma forma de "pegadinha", sem deixar de notar que a mulher era muito linda, sensual e gostosa. ***************** Termina aqui a primeira parte desse conto que continua em uma próxima oportunidade. Alan Brito Agnóstico e contador de estórias sobre deuses (e deusas).