CONTO: Edisson e Sheila (parte 2) Postado no uol.religiao em 17/08/2000. Este texto é apenas um conto, fruto de minha imaginação. Não se trata de algo psicografado ou similar. A primeira parte pode ser encontrada em http://members.fortunecity.com/albr50/religiao/contos.htm Por ser Edisson alguém que participa do grupo, e não um personagem fictício, fica difícil fazer afirmações a respeito de alguém que não conheço. Apesar do conto fazer referência a um futuro longínquo em que Edisson pode ser bem diferente do Edisson atual. Quando Edisson começa a se afastar da deusa Sheila, materializada em um corpo feminino, ela resolve oferecer-lhe uma prova de que não está mais vivendo no nosso planeta Terra. Sheila desintegra Edisson e aguarda o cair da noite para rematerializá-lo no mesmo local. Edisson não percebe o lapso de tempo, apenas se assusta com a súbita mudança ocorrida ao seu redor. Para ele, o dia se transformou em noite instantaneamente. Assustado, Edisson senta-se na areia e tenta entender o que estaria acontecendo. Seria um sonho? Estaria tendo alucinações? Sheila se aproxima, senta-se ao seu lado e tenta novamente contar-lhe onde está. Sheila: Você percebeu que o dia se transformou em noite? Edisson: Isso tudo está muito confuso na minha mente. Sheila: Vou contar até três e a noite se transformará em um nascer do sol. Um, dois, três e (repetindo o mesmo processo de desintegração/rematerialização) lá está o sol oferecendo-nos os primeiros raios da manhã. Edisson lembra-se das heresias que Sheila lhe contou e conclui que Sheila deve ser um ser demoníaco, talvez o próprio Satanaz, pois lembrava-se que Satanaz é descrito na Bíblia como tendo poderes semelhantes aos de Deus (Jeová). Estaria no inferno e as torturas iriam em breve começar? Não deveria ter ocorrido um Juizo Final em que seria julgado para depois ser condenado? Edisson começa a cantar um hino sobre o poder de Deus contra os demônios. Sheila: Como eu já te disse, Edisson, sou uma deusa e posso saber quais são os seus pensamentos (os deuses conhecem de forma detalhada o funcionamento do cérebro e, a partir da análise da matéria que compõe o cérebro, conseguem deduzir que significados estão presentes no centro da consciência). Posso te afirmar que não não existem os demônios descritos na Bíblia. Se eu criasse um ser que se tornasse tão rebelde bastaria desintegrá-lo. Edisson: (Levantando-se) Cala-te Satanaz em nome de Jesus. Cala-te Satanaz em nome de Jesus... E sai correndo, afastando-se da praia. Por estar distraído e com medo, acaba não vendo um buraco e sofre uma forte torção ao pisar, correndo, de mal jeito no buraco, causando uma fratura no pé. Edisson não consegue mais andar e sente fortes dores. Sheila se aproxima novamente. Sheila: Por que tanto medo de mim? Por acaso tenho uma aparência assustadora ou te fiz ameaças? Edisson: Você não para de dizer heresias contra a Bíblia e mostrou ter poderes sobrenaturais. Só pode ser um demônio. Sheila: Não lhe passa pela cabeça que a Bíblia pode ser apenas um livro que conta estórias imaginárias? Isso que você está vivendo agora é real. Por que não analisa a situação racionalmente, sem preconceitos? Edisson ora em silêncio pedindo ajuda a seu Deus. Sheila: Você quer que eu cure a fratura do teu pé? (uma simples remodelagem da matéria para os deuses) Edisson: Nunca aceitarei nada de demônios. Meu Deus me socorrerá. Sheila: No estado em que você se encontra, você mal conseguirá se rastejar. Não há nenhuma fonte de água por perto, nem do que se alimentar. Edisson: Não me importo de morrer aqui, se assim for da vontade de Deus. Não aceitarei a ajuda de um demônio. Analisando o cérebro de Edisson, Sheila percebe fortes indícios de que ele estaria perdendo a capacidade de raciocinar. Sheila pensa em várias alternativas: 1) Recomeçar tudo de novo, rematerializando a versão de Edisson do início dessa estória? 2) Deixaria rolar de forma que mais tarde, sob sede e dor intensa, seu cérebro acabaria sendo controlado por funções básicas dos animais, aceitando água e alimento? 3) Poderia materializar vários Edissons idênticos e, após algumas horas de troca de informações, escolher o mais racional, desintegrando os restantes, e assim sucessivamente, obtendo versões de Edisson cada vez mais racionais? 4) E tantas outras alternativas que um deus, podendo ter todo o tempo do mundo para produzir idéias novas, é capaz de imaginar. O conto do encontro imaginário entre Edisson e Sheila termina aqui. Aguardem o próximo conto, tendo como protagonistas a deusa Sheila (e outras deusas e deuses) e alguma outra pessoa (agora fictícia): - talvez um carioca sem religião - ou um baiano acreditando em Orixás - ou um ateu não cientista - ou um budista - ou um ateu psicólogo - ou um ateu antropólogo - ou um espírita - ou um ateu matemático - ou um agnóstico - ou um africano que teria perdido 5 filhos de fome - etc, etc, etc Alan Brito Agnóstico e contador de estórias sobre deuses