CONTO: Marcelo e Sheila (parte 2) Postado no uol.religiao em 25/11/2000. Este texto é apenas um conto sobre seres, lugares e situações imaginárias. A primeira parte pode ser encontrada em http://members.fortunecity.com/albr50/religiao/contos.htm assim como outros contos. ********************************************************** Depois de fazerem amor e de se beijarem durante algum tempo, Marcelo e Sheila, nus, tomam um banho de mar. Sem relógio, Marcelo estima que deve ser por volta de 9h da manhã. Marcelo volta para a toalha de praia, deixando Sheila na água. Veste sua sunga e começa a relembrar o que lhe aconteceu até então. Ele se lembra nitidamente da festa e do seu carro que se desgovernou no caminho de volta para casa. Não se recorda de ter sido socorrido ou de ter sido hospitalizado. Tenta encontrar explicações para esta sua amnésia. Imagina que poderia ter ficado hospitalizado em coma e só agora recobrou a consciência. Mas isso normalmente, pelo que ele sabe, ocorre no leito de um hospital. Ou talvez em casa. Mas não na praia, ao lado de uma desconhecida que diz ser uma deusa. Se fosse uma brincadeira, quem teria tido o trabalho de levá-lo desacordado a uma praia para que despertasse lá. Teria sido raptado do hospital onde estaria desacordado? Não sente nenhuma dor e não vê nenhum hematoma ou marca de cirurgia em seu corpo. E Sheila? Essa garota maravilhosa, sorridente, cativante e muito sexy com quem acabara de transar. Como conseguiu seduzi-la tão facilmente e tão rapidamente? Será que é uma garota de programa que faz parte de uma brincadeira armada por amigos? Sheila volta do mar, se veste e deita do lado de Marcelo. Marcelo: Essa praia fica perto de que cidade? Sheila: Perto de Cabo Frio, no estado do RJ. Marcelo: Você tem um celular? Gostaria de ligar para minha casa. Sheila pega uma bolsa e empresta um celular a Marcelo. Os deuses são capazes de materializar (e também desintegrar) qualquer objeto material instantâneamente. Não havia bolsa, nem celular por ali, mas Sheila materializa-os numa posição longe do olhar de Marcelo. Além disso, Sheila materializa um sistema telefônico nas proximidades capaz de receber e tratar as chamadas feitas por Marcelo. Marcelo liga para sua casa e ninguém atende. Tenta o número de alguns amigos e apenas secretárias eletrônicas, com mensagens conhecidas de Marcelo, atendem. Sheila já havia materializado réplicas das mensagens no sistema telefônico. Marcelo: Engraçado. Não consigo falar com ninguém. Fala sério comigo, isso é uma brincadeira? Sheila: Não, querido. Marcelo: Olha, eu me lembro de ter sofrido um acidente mas não me lembro de mais nada depois disso. Os deuses conseguem saber o que os humanos pensam ou sentem através da análise da matéria que compõe o cérebro. Sheila já sabia que Marcelo estava tentando encontrar explicações para o que estava ocorrendo. Sheila: Se você não encontra uma explicação lógica para o fato de acordar nessa praia, por que não considera a possibilidade de eu ter te contado a verdade? Marcelo: Qual? Que eu morri e estou agora no paraíso? E se eu fui raptado por alguma razão? Posso ter sido sedado e trazido para essa praia? Sheila: Por que alguém iria querer te raptar? Você não está preso, nem sob a mira de armas. Marcelo: Quer saber de uma coisa? Vou resolver já esse mistério. Vou voltar para o Rio. Para que lado fica a cidade mais próxima, onde eu possa encontrar outras pessoas e uma condução para o Rio? Sheila: Se você quiser, eu te levo até a tua casa no Rio. Você quer ir de carro, de moto, pelo mar, ou pelo ar? Marcelo: Como ela é poderosa! Tem até lancha e helicóptero? Foi assim que me raptaram? Sheila: Bom, eu te disse que sou uma deusa. Se você preferir, tenho um meio de transporte ainda mais rápido que um helicóptero ou um jatinho. Você já viu muitos filmes de ficção científica, como os da série Jornada nas Estrelas, em que os tripulantes de uma nave espacial descem até um planeta através de um sistema de teletransporte. Marcelo: Já vi muitos episódios dessa série. Eles ficam em pé sobre um círculo e, quando o mecanismo é ativado, desaparecem da nave e reaparecem no planeta. Sheila: Isso mesmo. São desmaterializados e rematerializados em outro local. Super rápido. Marcelo: Sei. Mas isso é ficção científica, isso não existe. Sheila: Nós deuses podemos realizar esse tipo de transporte. O problema é que isso pode te assustar muito. Marcelo: Essa eu quero ver. Vamos lá então. Cadê a máquina? (rindo) Sheila: Eu vou te pedir para ficar de pé, de frente para mim e me dar as mãos. Marcelo: Tudo bem, vou segurar bem forte para a gente não se soltar no meio do caminho (rindo). Olha, quero ir parar na calçada em frente a minha casa, ok? Sheila: Agora, feche os olhos que eu vou contar até três. Chegando no três, nós dois damos um pequeno salto para cima. Depois de tocar o solo, você pode abrir os olhos. Marcelo: Nos filmes não havia esse pulinho... Sheila: Vamos treinar então para eu ter certeza que você entendeu. É só um treino. Vamos continuar aqui após o salto. Feche os olhos. Um, dois, três, pule! Abra os olhos agora. Marcelo: Já entendi. Só que eu tenho certeza que vamos sempre cair sobre essa areia... Sheila: Só mais dois treinos. Feche os olhos, segure firme, um, dois, três, pule, abra os olhos. Feche os olhos, segure firme, um, dois, três, pule, abra os olhos. O próximo agora é para valer. Segure bem firme, certo? Marcelo: Vamos cair em cima da calçada? Sheila: Isso mesmo, você vai sentir uma diferença sob os pés ao tocar o solo, ao passar de um solo macio, a areia, para um solo duro, a calçada. Está preparado? Sheila já havia materializado uma réplica completa da cidade do Rio de Janeiro, totalmente deserta, com energia elétrica, água e esgoto supridos e tratados por equipamentos automáticos, extremamente sofisticados, distantes da cidade. Marcelo: Do jeito que você fala, com tanta convicção, eu já estou achando que isso vai acontecer mesmo... Sheila: Agora então é para valer. Segure firme. Feche os olhos. Um. Dois. Três e pule! Ao chegarem ao ponto mais alto do pulo, Sheila desmaterializa os dois corpos e materializa uma cópia idêntica, na mesma altura do salto, no ar, acima da calçada situada em frente à casa de Marcelo. Ao tocarem o chão, Marcelo percebe que não está mais sobre a areia. Ele perde um pouco o apoio, com o susto, mas Sheila segurava-o firmemente pelas mãos e impede que cambaleie. Marcelo abre rapidamente os olhos e vê sua casa. ********************************************************** Termina aqui a segunda parte desse conto que continua em uma próxima oportunidade. Alan Brito Agnóstico e contador de estórias sobre deuses e deusas.